Pão de acúcar!
E essa vai pra Barbra que, eu já estou adivinhando, vai rir um monte!
Pois, menina, nem te conto que tem uns três dias, eu com um mau humor do cão por ter caído da minha cama para ir a uma pauta lá onde Judas perdeu as botas na periferia da periferia da periferia em mais uma inauguração da prefeitura, olha para o lado e o que vejo?
Peraí, acho que não estou vendo bem...
Será que...?
Não... Não pode ser...
Olho de novo e vejo...
Oh!
Meu Deus, é o Olivier Anquier!
Chamo uma amiga minha que trabalha em outro jornal mas ela já chega mais embascada que eu com a novidade!
- O Olivier!
- Eu vi! O Olivier!
- É ele, o Olivier!
- Sim, o Olivier!!!
E lá vem a fotógrafa correndo:
- Ó a foto que eu tirei do Olivier!
Após o deslumbre, a dúvida: mas o que um homem como você está fazendo em um lugar como esse? Aceita um drink?
- Vamos entrevistar!
- Pega o gravador! Pega a fita!
- Pega o batom!
E lá vem o assessor da dona prefeita:
- Mas vocês são umas assanhadas mesmo, não?
- ´Magina. Estamos exclusivamente fazendo o nosso trabalho!
- Ah, é? Pois ali está o presidente da "super mega organização empresa sei lá o que das quantas", por que vocês não vão entrevistá-lo?
A gente olha. Baixinho. Barrigudo. Careca.
No way.
- Olivier!
- Olivier!
- Olivier, por favor, você poderia dar uma entrevista pra gente?
- Bien sûr, ma cherie!
Ele sorri.
Estou cega! Estou cega!
Meu Deus, isso é um sorriso ou é um eclipse?!
Mas não me perguntem o que aquele homem falou, o que eu perguntei, naqueles dois minutos sublimes... porque depois veio outra repórter perguntar o porquê de ele estar ali e eu apenas respondi: caiu do céu.
Na minha mente, se é que houve algum pensamento além do "tenho que parar de babar... tenho que parar de babar...", esse foi o de eu e a Barbra no supermercado, com várias garrafas de cerveja no carrinho, morrendo de rir na padaria e dizendo uma pra outra: "Você já experimentou a baguete do Olivier Anquier?", "Como é dura essa baguete!"
Hahahahah!!!! Ai, meu Deus, que baixaria... Mas o que seria de nossa sociedade sem um quê de baixaria, não é mesmo?
Só sei que, horas depois, minha editora veio reclamar aqui na minha mesa como é que eu não havia visto que fulano e sicrano estavam lá no evento e que haviam dito isso e aquilo e que haviam respondido sei lá o quê, fui honesta.
- O Olivier Anquier estava lá...
- O Olivier?
- Sim... E... ele sorriu pra mim.
Ela fez uma pausa. Pensou durante alguns instantes e, solidária à extensão que um fato como esse tem na vida de uma pessoa, colocou a mão em meu ombro e disse:
- ... eu te entendo ...