what a felling!

...ok, ok, vamos à Blue Space, entao, respondi ao meu amigo.
Coloquei meu casaquinho preto, borrifei perfume na nuca, passei sombra _tudo isso pra quê, meu Deus, se eu estava indo a uma boate gay?!
Mas a verdade é que em minha santa inocência eu achava o local seria parecido com as festas que eu frequentava em Fortaleza, onde a musica era massa, o ambiente, descontraido, mas agarrar alguém era quase impossivel, ja que 90% dos meninos solteiros, bonitos, inteligentes e interessantes estavam de olho em outros meninos solteiros, bonitos, inteligentes e interessantes _chamo ao tribunal minhas amigas de solteirice que nao me deixam mentir: a situaçao é dificil ou nao é, companheiras?

Em todo caso, eu ia, dançava, discutia com as meninas se aquele bonitinho do outro lado da pista era gay mesmo ou so rebolava, assim, por descuido. E de vez em quando ainda pescava um hetero interessante!
Pois bem, eu achava que na Blue Space ia ser do mesmo jeito.

Va ilusao...

Da entrada a gente ja ouve o tum-tis-tum, "ta animado la dentro, heim?", "u-hu, tomara", pago a entrada, subo a escadinha até um corredor meio escuro, abro a porta and...
"IT´S RAINING MEN, ALELUIA!
IT´S RAINING MEN!
EVERY SPECIMEN!
TALL, BLONDE, DARK AND LEAN
ROUGH AND TOUGH AND STRONG AND MEAN!"

Quase caio pra tras!
Até onde a vista alcançava, uma multidao de homens sem camisa, musculos e musculos à mostra dançando de trenzinho.
- meu deus...

Vamos para o andar de cima? - sugeriu o meu amigo.
Fomos. Era como um teatro. O show estava prestes a começar e eu tentava encontrar algum ser humano que n?o fosse 10 cm mais alto que eu para poder ver o palco.
Dentre centenas de pessoas, eu era a unica unica e unica mulher.
Close nos olhares de despeito e de espanto, quando me viam passando de maos dadas com um cara lin-do. E o pobre do meu amigo, claro, com o filme mais queimado do mundo. Encontramos um ex-ficante dele.
- Ah, deixa eu te apresentar. Essa aqui é a Amarilis!
- Oi! Tudo bem contigo?
- ahn ... é ... oi ...

Começa o show! Vem a drag fantasiada de morte, a drag vestida de feiticeira africana e depois a queen das queens que promoveu uma performance espetacular ao interpretar o classico de toda uma geraçao anos 80...
WHAT A FEELING!!!
Flashdance total!

Mas o melhor foi a peça _uma adataçao homo do emocionante "Ghost - do Outro Lado da Vida". Ainda estou tentando me lembrar de algo mais engraçado que isso nos ultimos tempos.

Sem falar _como pude me esquecer?!_ nos go-go boys, de sunguinha-inha rebolando no palco no melhor estilo vai tchuchuco! Nossa, eu ja estava adorando. E dançando e cantando e gritando "vai gostoso" e... heim?
Um cara que segura minha mao?
- Oi, você esta sozinha?

Meu PAVOR: Meu Deus, ele esta pensando que eu sou uma travesti!!!
Apontei meu amigo:
- Estou com ele.
Ele sorriu:
- Certo, mas você esta com... alguém?
- ?
- Eu quero saber... Você é lésbica?
Meu alivio: ufa, ele sabe que eu sou mulher!
Meu espanto: lésbica?

Quando olho pro lado, ele ja esta puxando uma menina toda sorridente:
- E que a minha amiga quer te conhecer...
- !
- Oi...
- Oi... é que... obrigada, mas eu so estou passando (nao, isso aqui nao é uma loja!)... quer dizer... eu... (e agora?) pois é... eu nao sou... desculpa...

A coitada saiu toda triste mas... vocês, gente, sem querer ser preconceituosa, devo dizer: uma pessoa que usa um boné cafuçu estilo Christina Aguilera nao da para encarar, nao é verdade?

E meu amigo chocado:
- Até tu leva uma cantada e eu nao?!

Mas a noite so termina quando acaba e ja na fila de saida, um cara ao lado da gente olha para ele e solta essa:
- Posso dizer uma coisa?
- Claro.
- Ja disseram que os seus olhos sao lindos?

Ugh!!! Descoberta da noite: nao importa a preferência, homem nao sabe dar cantada.

Voltamos alegres e felizes rindo das marmotas da noite. Passa um tempinho, meu amigo me manda um e-mail.
Outro reporter aqui do jornal havia ido à Blue Space e relatado a noite numa matéria.

Ai vai a visao dele, pra quem quiser mais detalhes sobre a noite mais bicha louca da cidade.

Poderosas peruas
[por Armando Antenore]

Nao ha nada mais triste do que uma drag triste. No camarim da boate Blue Space, Thalia Bombinha mira o vazio enquanto aguarda o momento de entrar em cena. Parece inconsolavel. Cabelao negro e liso ("como o de Mara Maravilha"), tamanco salto 12 ("reparou nas estampas de zebra?"), vestido curto e incrivelmente justo ("todo florido, um pedacinho da primavera em mim"), a meiga conversa apenas o necessario -e o necessario inclui, claro, uma miriade de adjetivos. Quando em silêncio, suspira. Longos e melancolicos murmurios.

E a diva da noite. Em poucos minutos, estara no palco, imitando Demi Moore, "a deusa das deusas, aerobica, faiscante". Um detalhe: Bombinha -ou Jansen França, recifense de 31 anos- pesa 120 kg.

Criada em 1996, a Blue Space ocupa um casarao cinqüentenario, de fachadas azuis, na Barra Funda. Sabado e domingo, entre uma sessao e outra de musica eletrônica, promove um concorrido show de drags e go go boys. Habitués do mundinho apontam o espetaculo como o melhor do gênero em Sao Paulo. Sustentam que, se Perla aparecesse para dar uma olhada, cairia de joelhos e cantaria "Babalu" sem sotaque.

O forte das apresentaçoes costuma ser o quadro em que as drags satirizam filmes, programas de TV e comerciais. Sob os urros da platéia, Raul Gil se torna Raul Gilda. Ratinho atende por Chatinho. Miguel Falabella vira Miguel Falalinda. Ha, também, o anuncio de um certo Veja Limpa Santa, tira-manchas que elimina "nao a bicha, mas a Nossa Senhora da Janela".

Euzinho, que sempre defendi o ingresso de Clovis Bornay na ABL (pelo entusiasmo poético com que batiza as fantasias), resolvi conferir o babado. Mal cheguei, esbarrei em José Victorino, o Victor, dono da boate. Trata-se de um daqueles sujeitos sem papas na lingua. "Onde descolei o nome Blue Space? Podia enrolar você, inventando uma viadagem qualquer. 'Ah, a palavra blue traz energia positiva.' Besteira. A real é que, quando adquiri o ponto, o casarao ja exibia fachadas azuis. Como nao tinha dinheiro para pinta-las de outra cor..."

Guias turisticos teimam em classificar o clube de GLS. Victor discorda. "Nada de GLS. Boate gay, com predominio de homossexuais masculinos. O 'S', nos guias, significa 'simpatizante'. E 'simpatizante', o hetero que respeita as bibas, concorda? Agora me responda: hetero, na balada, caça o quê? Mu-lher! Here?!? Fala sério! O 'S', na Blue, quer dizer 'suspeito'."

(nota da editora deste blog: por favor, pensem na minha cara lendo isso.)

De fato. No fim-de-semana passada, uns 1.200 homens enchiam os cômodos escuros do casarao. "Se você reparar direito, vai identificar todas as tribos gays por aqui", explicou o gerente Alex Victorino, sobrinho de Victor. "Barbies, ursos, travas, bichas-manos." Ou, pela ordem, os fortoes sem camisa, os gordos e peludos, os travestis e os rapazes da periferia.

As raras garotas -bonitas, sim- trajavam roupas provocativas. "Sao lésbicas ou namoradas dos go go boys", avisou Alex. A morena Adriana Leite, de 26 anos, logo o desmentiu. Afirmava nao se encaixar em nenhuma das categorias. "Conheci a Blue por causa de amigos homossexuais e adorei. Som maravilhoso, diversao garantida, risco zero de briga. Imagine se usasse um modelito desses numa danceteria hetero. Nao iam me deixar em paz."

O modelito: "top de pelucia, microssaia de gorgorao branco, bota de cano alto". Piercing no umbigo e tatuagem de fada perto do quadril. "Funciona assim: as mulheres se inspiram nas drags para se vestir e, depois, as drags se inspiram nas mulheres."

(nota da editora: nossa, eu tinha visto essa menina! mas pensei que era uma drag...)

Natasha Rasha, por exemplo. "Sigo a linha das executivas. Basica." De calça e blusa pretas, casaco de couro marrom e maquiagem leve, a fofa atua como mestre-de-cerimônia nos espetaculos da Blue. Perguntei-lhe o nome verdadeiro. "Natasha Rasha Panetal Chernobyl Césio Gorbachev Kubitschek Onassis Wite Fibe Exploravelho Mucocavendishy e Pronto." Insisti. "Meu nome de bofe? Murillo Flores." Sul-mato-grossense, 34 anos. "Sabe qual a diferença entre Murillo e Natasha?" Nao. "O Murillo é uma delicia. A Natasha, irresistivel."

O show começou às 22h30. Cinco rebolativos go go boys, so de sunga, esquentaram o publico para a performance de Danny Cowlt. Clone de Grace Jones, a poderosa protagonizou um agressivo balé com musculosos soldados romanos. Yuri Mix, de meia-arrastao, homenageou Jennifer Beals em "Flashdance". E Lysa Bombom incorporou uma "diaba vingativa" num musical fantasmagorico. As três talentosissimas, driblando o cenario mambembe.

Foi, no entanto, Thalia Bombinha quem definitivamente arrasou. Revelou-se um hilario arremedo de Demi Moore em "Ghost". Puro circo. No fim do espetaculo, procurei-a. Por que Bombinha? "Porque sofro de asma, querido." (Um gaiato que passava pescou o papo e nao perdoou: "Entrevista para o 'Globo Rural', hein, danada?".) Por que aquela tristeza antes de subir no palco? "Tristeza? Nunca! Sou a dama da comédia! Talvez estivesse meio sonolenta. Tinha acabado de comer uma marmita. Arroz, feijao, carne, batatiiiinha..."

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O reporter Armando Antenore, 36, desconfia que Natasha Rasha turbinou os peitos com silicone.

Pearls

Bem, antes de contar a animada noite na Blue Space, pausa para dois dialogos dignos de registro.

1.
westin - moço, poderia levar a gente para a avenida augusta?
taxista - na parte rica ou pobre da augusta?
...momento constrangedor...
flavia - o senhor acha que se fosse para a parte rica nos estariamos dividindo um taxi entre seis pessoas?

2.
simone - nunca quebrei perna, braço nem nada.
eu - nem eu, graças a Deus.
carla - nem eu, infelizmente.
...momento "heim?"...
carla - ah, eu sempre achei lindo andar de muleta!

Sete e meia e a mae me liga:
- Minha filha, voce nao telefona desde sabado!

(namorado resmunga: quem era essa hora?
minha mae.
quando a gente morar junto voce vai ter um telefone dentro do seu quarto.
bobo, se a gente morar junto, a gente vai ficar no mesmo quarto.
hm... mas tu tem que ter um telefone diferente pra ti, que so tu ouça... ja sei: por que voce nao deixa o celular ligado?)

Mas a mae esta certa. Ha muito tempo nao dou noticias.
Trabalhando demais. Eh verdade.
Parte da verdade.
Vontade de ficar no casulo, a outra parte.
(mas aguardem para ver, apos o periodo de busca pelo eu interior, a saida vitoriosa da borboleta brilhante e glamourosa _meu Deus, essa foi a imagem mais drag queen que ja passou pela minha cabeca... se bem que, bom, continuem lendo...)

Nesse interim, uns sete mil lotes de historias para contar.
Como esta:

"Cheguei do trabalho, abri a porta do elevador e encontrei, diante da porta do meu apartamento, um dos meus pes de meia. Sozinho, azul, no meio do hall.
Olhei curiosa. Como aquela meia havia ido parar ali?
- Estava com saudade, ela respondeu.
E eu acho que preciso lavar minhas roupas com mais frequencia..."

Mas o melhor e voltar logo a uns tres fins de semana atras para contar cronologicamente.

Namorado viajando, saudade enorme, eu havia passado um sabado de preguiça e um domingo de tedio, nao necessariamente nessa ordem porque as vezes os dias da semana se misturam e uma terça-feira, sem qualquer razao aparente, acorda com cara de domingo _as horas longas, o cheiro de mar vindo de nao sei onde.

Pois bem, nesse findi entao eu havia experimentado um domingo com gosto de segunda _o dia mais mal-amado da semana. Nada de sol nem de ceu azul. Tempo frio e nublado. Fui ao cinema.
Na volta, quando achei que este era o fim de meu pacato fim de semana, um amigo convida:
- Vamos a uma boate?
- Eu tenho que trabalhar cedo amanha...
- Vamos?
- Mas eu estou cansada... Uma dor nas costas...
- Ah, vai ser legal!

Depois de eu dar todas as minhas desculpas de terceira idade, aceitei. Sem, eh claro, abrir mao do jeito idosa de ser:
- Mas a gente volta meia-noite, certo?

Ai foi a vez de ele me avisar:
- Mas olha, quero que voce saiba que la... bem, eh um lugar diferente.
- Diferente como?
- E um lugar assim... moderno.
- Moderno?
- Eh, onde tem... pessoas.
- ?
- Que ficam com... pessoas.
- Ah, eh uma boate gay? Menino, que besteira, vamos la. O que eh que pode ter demais?

Bem, agora tenho que sair para uma pauta.
Mas ja eu conto o que eh que encontrei na Blue Space!

Pao
metida a dona-de-casa, comprei ontem o livro de receitas pr?ticas para o dia-a-dia da revista "Ana Maria".
Entre outras, encontrei as receitas:
- do sanduiche verao
- do pastel de pao.
- e da salada de pao.

Nao, eles nao ensinam a fazer pao.

A mafia das panificadoras esta cada vez mais astuta...

Ze Caballero

"Ando tao a flor da pele
Que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tao a flor da pele
Que teu olhar flor na janela me faz morrer
Ando tao a flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de nao ser
Ando tao a flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juizo final
Um barco sem porto
Sem rumo sem vela
Cavalo sem cela
Um bicho solto um menino um bandido
As vezes me preservo
Noutras suicido"

Plim plim
E o Vitor me manda o seguinte e-mail:

Briga de audiência é fogo.
Quando o Silvio Santos falou que iria morrer,
o Roberto Marinho foi e morreu primeiro!

Alegria doméstica
(pois nada como o barulho da pipoca estourando na panela)

Para o bem de todos
E felicidade geral da naçao
Apos meses de microondas
Finalmente tenho um fogao

Momento bicho-grilo
(pois às vezes tudo o que eu quero é mandar o trabalho para os raios que o parta e virar hippie)

"Eu sou a dona de casa
nos pegue-pagues do mundo
Eu sou a mao do carrasco
sou raso, largo, profundo
Gitaaaa, Gitaaaaa, Gitaaaaaa!!!"