quarta-feira, junho 25, 2003

Trois mois

E é isso: depois de três meses
(que eu ainda não sei dizer
se foram os mais longos
ou os mais curtos
três meses da minha vida)
o treinamento acabou.

Acordei, tomei café.
Vim para o jornal a pé.
Um passo depois do outro.
É bom ter isso em mente.
Quando a gente quer correr
seja pra trás
seja pra frente
parar e pensar:
um passo depois do outro.

Vim olhando a paisagem.
Tudo que há três meses não me dizia nada
ou tão pouco
paredes somente
se bonitas se feias
tanto faz, indiferente
calçadas, ruas
espaço de passagem entre o
aqui
e
o
acolá
agora tão minhas, tão minhas
que eu não caminho sozinha.
nem sigo completa.
deixo pedaços de mim pelo chão
...

Mas eu sei que na verdade tudo isso é uma grande besteira da minha parte porque segunda-feira eu estarei aqui novamente fechando o caderno e no decorrer da semana ainda tem algumas provas e entrevistas e se Deus quiser o editor vai falar assim:
- Uau, essa menina é demais!
E logo logo eu serei uma super repórter correndo por aí com meu gravador tec-tec-tec no teclado transcreve a entrevista corta o texto explica verifica e corre pro outro lado da cidade vendo o mundo passar acelerado corra louca corra que a notícia não te espera _corra!
Corra! Corra! Corra!

Aí eu parei.
Com o pé direito a um centímetro do chão.
E o esquerdo no passado.
Nessa posição fiquei, tentando manter o equilíbrio.
Os braços levemente afastados do corpo.
Os olhos fechados.
O medo no meio do umbigo.

Num presente feito do que já acabou e do que ainda não veio.
Um vazio imenso sob os meus pés.
A corda fina. A sapatilha.
A respiração suspensa.

"Um passo depois do outro."

Abri os olhos. Respirei fundo.
E levemente, toquei o chão.
Atravessei a rua.
Cheguei à praça.
E entre as árvores centenárias, retomei o meu caminho, assobiando esta canção:

segunda-feira, junho 16, 2003

Todos os nomes
- Alo?
- Alo. Boa tarde, eu gostaria de falar com a Jane.
- Ela nao esta.
- Quem fala?
- E a Janete.
- ...

Horas mais tarde...
- Entao o senhor tem duas filhas.
- Eh, a mais velha chama Isis
- Que nome bonito. E a mais nova?
- Iris

sexta-feira, junho 13, 2003

Estando eu, nesta sexta-feira à tarde com absolutamente nada de util para fazer mas sem poder ir para casa pois eu entrei no jornal às 12h, vou procurar meu nome no site da Telefônica.
Nao apenas encontrei a "Amarilis Moda", o "Condominio Amarilis" e a "Drogaria Amarilis" como descobri que moram nesta mesma cidade:

- AMARILYS
- AMARYLIS
- AMARILLYS
- AMARYLLIS
- AMARILES
- AMARYLLES
- AMARILI
- AMARELIS
- AMARILIZ
- AMARILEZ
- AMARILLE

E eu juro nunca mais reclamar quando alguém escrever meu nome de forma errada...

sexta-feira, junho 06, 2003





- Cheshire Puss _ she began, rather timidly_ Would you tell me, please, which way I ought to go from here?
- That depends a good deal on where you want to get to.
- I don't much care where.
- Then it doesn't matter which way you go.

domingo, junho 01, 2003

A excitante vida sexual das samambaias

Eu era uma moça pura e inocente.
I was.
Estudei em colégio de freiras. Ao sair de casa, fui morar em um pensionato de freiras. E apesar de ter tido motivos, nunca bati numa freira.

Eu era comportada.
I was.
Recatada.
I was.
Eu era quase uma virgem.
I was.
Mas, naquela noite...
I was
beat
incomplete
I'd been had
I was sad and blue
But you made me feel
Yeah, you made me feel
Shiny and new...


Pare! Pare essa música, eu imploro!
Mas ela continua ecoando em minha cabeça... lembrando-me daquela noite em que a luxúria e a vaidade me levaram à mais completa humilhação...

Ainda lembro... Eram umas nove horas, ou dez, de uma noite aparentemente normal...
Eu arrumava meu guarda-roupa, sozinha em meu quarto, ouvindo música.
Começou a tocar Madonna, e eu lá, dobrando as roupas no ritmo.
"I made it through the wilderness
Somehow I made it through
Didn't know how lost I was
Until I found you..."


Aí comecei a dançar, rebolando um pouquinho:
"I was beat incomplete
I'd been had
I was sad and blue
But you made me feel
Yeah, you made me feel
Shiny and new...

LIKE A VIRGIN!

Uh! E eu me empolgando!
"Touched for the very first time!"
Jogo a blusa que estava dobrando pra cima!
"Like a virgin......."
E pula!
"When your heart beats
Next to mine"


Bem, no auge do meu rebolado, percebo que _oh!_ um vulto no apartamento defronte me observa.
Oh!
Tá, não era perto. O prédio deve ficar a uns 200 metros de distância do meu. Mas mesmo longe, ele estava lá, na varanda, recortado no contra-luz, me observando.
Minha Nossa Senhora de Fátima rodeada de anjinhos, o que estou fazendo? Que vergonha!
Vergonha?
Antes fosse.
Pois eu pensei "let´s go, boys" e aumentei o volume:
- O show vai começar!!!

FEELS SO GOOOOD INSIIIIDE
WHEN YOU HOLD ME
AND YOUR HEART BEATS
AND YOU LOVE ME
OHHHHH BABY

E lá se vai a blusa, e lá se vai a saia, e lá se vai o conceito clássico de política da boa vizinhança.
Dei um show completo e, acabada a música, apaguei a luz do meu quarto.
Deitei na cama, exausta e orgulhosa.
Toda mulher tem um quê de vadia.

Na noite seguinte, ao chegar do trabalho, joguei a bolsa na cama e, enquanto retirava os sapatos, percebi que lá estava o meu voyer, no mesmo local da véspera.
Uau, eu fiz sucesso!
E lá se vai o casaco, e lá se vai o moletom, e lá se vai uma blusa, e lá se vai outra blusa, e lá se vai outra blusa...
Tá pensando o quê? Que fazer strip no inverno é fácil?

Na terceira noite, confesso que me senti incomodada.
Como assim? Agora eu ia ser a louquinha do prédio azul que faz a alegria da garotada?

Apaguei a luz. Fui jantar. Fui ler. Fui ver tv.
Quando voltei ele estava no mesmo lugar.
Três horas depois e ele lá.
Imóvel.
Eu já estava preocupada com aquela obsessão, mas, na manhã seguinte, descobri o mistério.

Meu admirador secreto era um vaso de planta.
Provavelmente, uma samambaia.

Sim, é isso eu pulei só de sutiã para uma samambaia.

E algo me diz que Freud adoraria ter me conhecido...