sexta-feira, janeiro 31, 2003

Chave

Cheguei de viagem. Foi tudo ótimo etc etc.
Cheguei?
Sei lá.
Onde mesmo?
Em casa?
Talvez.
Casa estranha.
Cidade estranha...
A chave gira na porta. Sim, é aqui. Aqui que é algum lugar no mundo que deveria significar algo mas há algo, impalpável, que não abre com este pedaço de metal.
Cheguei com a impressão de que continuo partindo.
Deve ser por isso que, morando aqui há cinco meses, ainda não desfiz completamente a mala que trouxe de Fortaleza.

ai...
banzo...
...
Para Sissi:

É pique!
É pique!
É pique é pique é pique!


quinta-feira, janeiro 23, 2003

Meu próprio curso de espanhol
Aula 2





"Mi Diego:

Espejo de la noche.
Tus ojos espadas verdes dentro de mi carne, ondas entre nuestras manos.
Todo tú en el espacio lleno de sonidos - En la sombra y en la luz. Tú te llamarás AUXOCROMO el que capta el color. Yo CROMOFORO - La que da el color.
Tú eres todas las combinaciones de números. La vida.
Mi deseo es entender la línea la forma el movimiento. Tú llenas y yo recibo.
Tu palabra recorre todo el espacio y llega a mis células que son mis astros y va a las tuyas que son mi luz."


Frida Kahlo

quarta-feira, janeiro 22, 2003

Chique demais, sou agora uma mulher que possui sua própria cama!
Chega de dormir no sofá da sala!
E pra acabar de vez com a chinelagem, embarco sábado para Buenos Aires!
Vamos hablar español?

Quizás, Quizás, Quizás

"Quizás, Quizás, Quizás"

Siempre que te pregunto
Que, cuándo, cómo y dónde
Tú siempre me respondes
Quizás, quizás, quizás

Y así pasan los días
Y yo, desesperando
Y tú, tú contestando
Quizás, quizás, quizás

Estás perdiendo el tiempo
Pensando, pensando
Por lo que más tú quieras
¿Hasta cuándo? ¿Hasta cuándo?

Y así pasan los días
Y yo, desesperando
Y tú, tú contestando
Quizás, quizás, quizás

segunda-feira, janeiro 20, 2003

domingo, janeiro 19, 2003

Queridos leitores,

eu sei que este é um blog familiar singelo e, portanto, peço desculpas antecipadamente pelos eventuais transtornos que a imagem a seguir possa causar. Mas, procurando fotos de cuecas para o post anterior (quem ler, entenderá) encontrei esse novo modelo de roupa íntima e senti necessidade de compartilhar minha descoberta com vocês.
Obrigada.










O misterioso caso das cuecas azuis




Mulher tem mania de pendurar calcinha no "negocinho de girar" do chuveiro.
(Quem souber o nome do "negocinho de girar" por favor me ajude que agora eu só consigo pensar em maçaneta e torneira.)
Isso todo mundo sabe e alguns caras até reclamam da calcinha ali.
Tá.
Eu também lavo minhas calcinhas durante o banho e deixo elas penduradinhas ali, no box, secando.

A surpresa foi encontrar, na semana passada, duas cuecas dividindo o mesmo recinto. Uma sobre o bidê e outra pendurada na maçaneta (agora é maçaneta mesmo) do banheiro.
- Almeida! Suquinho! De quem são essas cuecas?

O dono da branquinha logo se apresentou. Foi se desculpando, alegou esquecimento etc. Tudo bem.
Mas a azul ficou ali. Órfã.
O outro dizia que não era dele.
O primeiro falou que devia ser do meu namorado.
Mas, a não ser que meu namorado houvesse entrado escondido no apartamento com o único intuito de pendurar aquela cueca azul ali na porta como uma prova de sua afeição por mim, aquela cueca não pertencia a ele.

Estou à tarde conversando com uma amiga quando ela conta uma história parecida.
Do nada, apareceu uma cueca no varal na casa dela.
O cara com quem ela divide apartamento não reconheceu a dita cuja.
O namorado também não.

- Só uma curiosidade: de que cor era a cueca? - perguntei.
- Azul.
- Azul marinho?
- Exatamente! Do tipo elástica, sabe?
- Sei... Um pouco brilhosa, não é?
- Isso mesmo.
Na mosca: era a maldição da cueca azul marinho.
Cuecas que invadem residências onde reina o amor e a harmonia para semear a discórdia e a desconfiança.

***

O marido há três dias sem dormir direito, mastigando a comida com os olhos injetados no prato.
- Afrânio...? amor...? o que você tem?
- Nada, Judith... - ele enfia um pedaço de bife na boca.
- Como nada, Afrânio? Você está assim há três dias, mal fala comigo, todo estranho, todo calado...
- Eu disse que não é nada, Judith...
- Olha, Afrânio, eu acho que não é assim. Eu acho que a gente tem que discutir a relação quando as coisas não estão funcionando bem. Por que o doutor Rogério me disse que se você guarda a mágoa, Afrânio, ele disse bem assim: se você tenta sublimar aquele sentimento negativo, ele vai crescendo dentro de você... entende? Você tem que verbalizar, tem que se abrir para a outra pessoa...
- Eu disse que não é nada, Judith...
- Afrânio, eu sou sua mulher, eu tenho o direito de saber...
- Saber o quê?! Eu é que tenho o direito de saber, Judith!
- Saber o quê, Afrânio?
Ele fecha o punho sobre a mesa:
- De quem é que aquela cueca azul marinho, Judith?!
- Cueca?
- Você sabe que eu só uso cueca amarela, Judith! Você sempre soube que eu só uso cueca amarela!
- Amarela?
- Agora não me venha com essa cara lavada, Judith! Pode ficar com seu amante! É isso: nosso casamento acabou!
***


Preocupada com as possíveis conseqüências de um tenebroso ataque das cuecas azuis para o futuro dos relacionamentos amorosos, fui à casa do namorado. Mal entrei no apartamento, o que vejo?
Sobre a mesa de centro da sala, uma... cueca.
- Bem, o que essa cueca está fazendo aí?
- Ah, é uma cueca que apareceu aqui e ninguém sabe de quem é. A lavadeira colocou no meu armário, mas minha não era, então eu coloquei no armário do Pelópidas, mas ele também disse que dele não era. Aí ele colocou aqui na sala, para que um dos outros meninos pegasse. Mas tem dias que essa cueca está aí e ninguém pega.

Observei a cueca misteriosa.
Mas contrariando todas as minhas expectativas era uma cueca... cinza.
Estranho... muito estranho...

***

Às 23hs, o telefone toca:
- Alô?
- Sou eu... - responde uma voz chorosa.
- Judith? Judith, o que aconteceu?
- O Afrânio, doutor Rogério... O Afrânio... ele... ele descobriu tudo sobre nós...

quarta-feira, janeiro 15, 2003

Fala...

Pedi a um amigo que perguntasse à sua faxineira em que dias ela estava livre.
Ela respondeu:
- ah, seu Edson, diz pra ela que eu posso ir na segunda e na telça.
Para evitar constrangimentos, acho que vou pedir para ela vir na segunda...

...que eu te escuto
Outro amigo meu marcando a entrevista.
- Por favor, eu gostaria de falar com o senhor fulano de tal.
- Ô meu filho, será que você não pode ligar amanhã? - pergunta a esposa do entrevistado
- Bem... posso mas... por que?
- É que o aparelho de surdez dele só chega amanhã do conserto...

Ou seria do concerto?
Já pensou? O aparelho de surdez revoltado com o dono:
- Se você não sabe apreciar Bach, eu vou sozinho!
Nossa, que mundo estranho...

domingo, janeiro 12, 2003

All you need is love

Sábado à noite, de purpurina nos olhos e estreando minha linda blusa azul by C&A, fui a uma boate bacaninha para remexer o esqueleto e também para dar um abraço em um dos amigos da Lídia Brondi que, graças à cerveja, resolveu passar uns dias por estas bandas.
Ele usava uma blusa escrito "SHE" e cabelo pra frente, uma coisa meio indie.
Ela estava preocupada porque foram dizer que estava muito arrumada com sua saia brilhante, parecia que ia para um casamento. Mentira, eu disse, pessoas de classe nem sempre são compreendidas.
Os meninos pediram um cachorro quente que demorou apenas quatro séculos para ser feito, mas eles comeram em dois segundos e assim pudemos entrar na boate antes da meia noite e meia o que significa: de graça.

A cerveja era cara mas tá, dá uma, e fomos dançar.
Tocou Blur, Hives, Pixies e eu pulei muito in the end of the world.
I felt fine.
Pedi "Die another day" para a DJ mas ela não tinha e como eu já estava um pouco cansada mesmo sentei ali perto com a amiga de saia brilhante.

Naquela luz histérica que é o tempo todo claro-escuro-claro-escuro-claro-escuro não dava para ver muita coisa, mas com o tempo a gente se acostuma.
Pisca e vê, aqui, um olhar.
Pisca e vê, ali, outro olhar.
Pisca e vê um sorriso.
Vai ligando os pontos e, como numa fotonovela, vai acompanhando o enredo: a menina desvia o olhar, o menino mantém, ela ajeita o cabelo, ele sorri, ela comenta com a amiga, ele toma um gole da cerveja, ela olha, ele olha, ela desvia o olhar e nessa lenga lenga vai até que eles se beijem ou que ela, perceba, consternada, que ele desistiu e já está olhando para outra menina.
Ou vice-versa.

Representante do time "tenho namorado mas ele está viajando", eu aproveitava para me divertir com os jogos alheios.
Menina fazendo charme.
Menino fazendo pose.
"...everybody is looking for something..."

A menina de gravata. O menino de cabelo moicano. A loira de preto. O altão.
Cada um com seu repertório de conquistas, perdas, amores e dores de cotovelo à tiracolo.
Com poucos minutos para dizer oi, perguntar o nome e beijar.

(- Os santos não têm lábios, mãos, sentidos? - pergunta Romeu.
- Ai, têm lábios apenas para a reza.
- Fiquem os lábios, como as mãos, unidos;
Rezem também, que a fé não os despreza.
- Imóveis, eles ouvem os que choram.
- Santa, que eu colha o que os meus ais imploram.




Diz Romeu:
- Seus lábios meus pecados já purgaram.
Responde Julieta:
- Ficou nos meus o que lhes foi tirado.
)

Sorrio para a amiga de saia brilhante, que passa de mãos dadas com um rapaz.
Ao meu lado, no sofá, um casal se agarra com mais... entusiasmo, digamos assim.
O segurança vem pedir um pouco mais de compostura.
O casal se solta um pouco, mas como matéria atrai matéria na razão direta do desejo, em pouco tempo lá estão novamente os dois corpos tentando ocupar o mesmo lugar no espaço.

O tempo é pouco e a necessidade é muita.
Necessidade de tocar o outro. Sentir seu cheiro. Para saber que sim, o outro existe.
E a necessidade de ser tocado, ser beijado, ser querido, para comprovar a própria existência.
"...a murderous desire for love..."

Mas como eu dizia, o tempo é pouco e a noite acabou.
Fui chamar um amigo que adormecia no andar de cima. Os outros já estavam pagando a conta. Ainda lembro da música que tocava quando saímos da boate:
Kiss me...
won't you won't you kiss me
Won't you won't you kiss me
Lift me right out of this world


No balcão da padaria, diante do meu misto quente com suco de morango, eu ouvia os meninos comentando as histórias da noite, ou as histórias que poderiam ter sido se sêsse. Quem olhou pra quem, quem sorriu pra quem etc.
Momento em que me vi obrigada a dizer que duas das meninas que eles estavam paquerando eram, na verdade, lésbicas, pois eu as vi se agarrando no banheiro.
- Mas... mas... ela olhou pra mim um monte...
Pois é... assim é a vida na sociedade pós-moderna.

E quem nunca descobriu que o objeto de suas atenções era gay, nunca levou um fora ou viu o(a) tal se agarrando com outra pessoa depois de passar a noite inteira dando bola pra você que atire a primeira pedra.
Quem nunca segurou vela.
Quem nunca pensou: "eu vou morrer solteiro...".
Alguém? Alguém?
Esquece.
Não é fácil para ninguém.

Mas o bacana é que, quando menos se espera, acontece.
Você descobre que ama alguém. Que alguém ama você.
E descobre que Chico, na verdade, é que tinha razão:

Não se afobe, não, que nada é pra já
O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário, na posta-restante
Milênios, milênios no ar...

quinta-feira, janeiro 09, 2003

Novelas
Ontem, ao voltar para casa, tive o imensurável prazer de assistir, pela primeira vez em minha vida, à novela "Joana, a virgem".
Queria dividir este momento com vocês e informar, a quem interessar possa, que a abertura é um espermatozóide atrás de um óvulo.
Ah, ontem também assisti, pela primeira vez, "Betty, a feia".

Foi um dia produtivo.

segunda-feira, janeiro 06, 2003

A rainha da festa
Para Thom e Tom também

O Thomaz pediu que eu escrevesse hoje porque é Dia de Reis. Honestamente, na minha casa nunca que teve dessas frescuras. Natal é Natal. Réveillon é Réveillon e pronto. Depois disso, só o carnaval.
Mas hoje eu descobri que o Dia de Reis realmente é comemorado e que, inclusive, possui comidinhas típicas.
Pois o meu editor trouxe para nossa reunião de pauta um legítimo "Bolo de Reis".

Aí a Meg contou que esse bolo possui uma tradição. Dentro dele, está um brinquedinho de plástico. Quem pegar a fatia com o brinquedinho, terá muita sorte, mas...
(suspense)

Certo, agora eu quero ver a perspicácia de vocês.
Quem foi que encontrou, na primeira mordida, o brinquedinho de plástico?
Quem é que vai ter muita sorte este ano? Quem?
E quem foi a sortuda garota que, por encontrar o bendito brinquedinho no meio do bolo, precisava passar o resto do dia com uma coroa dourada na cabeça?
É isso mesmo...
Mais uma da série "isso só acontece comigo".

Eu lá, no meio da reunião, com a coroa dourada na cabeça.
Meu editor falando e eu concordo ou discordando, com a coroa dourada na cabeça.
Meu povo, como é que uma pessoa assim consegue passar uma imagem profissional decente?

Já pensou se eu tivesse que entrevistar alguém hoje?
- Mas como o senhor avalia a reação do mercado a estas pesquisas?
E o homem ia conseguir responder alguma coisa, olhando pra minha coroa?

Sorte que passei a tarde fazendo as coisas pelo telefone.
E um repórter amigo meu ao ir embora:
- Ei, mas você percebeu que está com uma coroa na cabeça, né?
- É...
- Não esquece de tirar quando sair, tá? As pessoas na rua... bem, as pessoas podem comentar.

Eu sei... mas tudo em nome da tradição!

Viva o Dia de Reis! Viva!

quinta-feira, janeiro 02, 2003

Bete Balanço

Primeiro dia do ano, minha crença de que um dia eu hei de pertencer à geração saúde levou-me ao Parque do Ibirapuera.
Ressaca? Deixa pra lá. Dez e meia da manhã, calcei meus tênis e fui lá, dar minhas corridinhas no parque.
Corridinha mesmo não teve muita, não.
Numa atitude mais contemplativa (para não dizer preguiçosa), sentei-me à beira do lago e fiquei lá, olhando os patinhos e pensando na vida com aquela deprê típica de Réveillon.

Passa um vendedor:
- Quer cerveja geladinha?
- Não, obrigada...
Passa outro:
- Quer sorvete?
- Não, obrigada...

- Quer pipoca? Quer salgadinho?
- Não, obrigada...

- Quer fazer amizade?
- Não, obrigada...
- Por que não?
- Heim?
- Por que?
- Desculpa, o que foi que o senhor disse?
- Eu perguntei se você não quer fazer amizade?
- Ah... não, obrigada.
- Por que?
- Bem... eu estou meio chata, hoje.
- Mas se você está chateada, a gente pode conversar sobre isso.
- Moço...
- Eu posso ouvir você. O que está lhe chateando?
- Moço, eu disse que não, obrigada...

Céus! Quando eu me tornei esta pessoa amarga que não quer mais fazer amizades com o povo?
Tá, o cara era uma mala sem alça, mas eu me senti mal.
Primeiro dia do ano e eu assim, deprê e antipática?

Foi quando _tentando resgatar a inocência e a alegria da criança que ainda existe em mim, cruelmente sufocada pela mulher madura e estressada, em busca de uma nova atitude diante da vida, mais leve, mais colorida para iniciar 2003 _ eu tive uma idéia brilhante:
- Vou brincar no balanço!

Fui feliz e saltitante até a parte dos brinquedos, onde era uma alegria só. Criancinhas correndo, a moça do algodão-doce, flores por todos os lados... Enfim encontrei meu favorito _sorri.
Há quantos anos eu não sentava num balanço? Nem conseguia lembrar...
Por que, meu povo, a gente deixa para trás estes pequenos prazeres da vida? Por que?

Não tardei a descobrir a resposta: porque eu não cabia mais no balanço.
Pra piorar, uma menina má e insensível ainda disse assim:
- Ei, tia, não senta, não! Vai quebrar!

Meu Deus, que humilhação!
Saí correndo atrás da minha dignidade de adulta, que a essa altura já estava há léguas de distância. Mas no meio do caminho, vi uns adolescentes brincando em uns balanços maiores e pensei: não me deixarei intimidar!
Se eles podem, eu também posso.
E fiquei esperando a gurizada sair para me balançar também.

Só que os meninos nunca que iam embora e, ansiosa para levar meu plano até o final, saí a procurar nas redondezas um balanço do mesmo modelo, que parecia maior.
Encontrei um parecido. Em uma das cadeiras, estava uma menina bem gordinha.
Eu pensei: tá, tudo bem que essa menina só deve ter uns dez anos mas duvide-o-dó que a minha bunda seja maior que a dela, a menina é uma baleia!

Tá, geralmente eu não falaria assim de uma criança, mas depois de ter sido cruelmente humilhada por aquele projeto de gente metida a besta eu havia perdido a barreira do bom senso.
E confesso que também não tive pudores em correr para agarrar o balanço antes de um menino que vinha na mesma direção:
- Eu vi primeiro! É meu! Vai procurar outro!

Sentei.
Ficou um pouco apertado mas eu estava mais feliz que nem sei o quê. Fiquei lá, me balançando, pernas pra frente, pernas pra trás... O horizonte subindo e descendo. O vento no rosto. Até sorri para a menininha gorda, pra vocês verem como eu sou legal.

Balancei.
Balancei.
Até que cansei.
Tá, agora vocês respondem: e quem disse que eu conseguia sair do balanço?
En.ta.la.da.

Puxa daqui, puxa dali e nada.
Veio um rapaz:
- Quer que eu empurre a senhora?
- Não, obrigada...
Puxa daqui, puxa dali...
- A senhora tá presa?
- Não, eu só estou... pensando na vida.

O rapaz ainda ficou ali por perto, acho que queria se balançar também, coitado. E eu lá, me balançando e olhando pro tempo.
Quando ele enfim desistiu, eu tentei de novo.
A cena mais linda: em pé com o balanço preso no quadril, empurrando o brinquedo pra trás e rebolando.
E eu tenho certeza de que, no dia em que for rica e famosa, descobrirei que alguém gravou uma fita com essa cena, pela qual pagarei milhões de dólares.

Quando enfim consegui me desentalar, respirei aliviada e acenei para a menininha gorda, que assistira todo meu malabarismo sem rir de nada.
- Tchau, lindinha. Feliz ano novo, tá?
- Tchau, tia.

E só depois eu fui me tocar...
Acho que a coitada também estava entalada.