Ei, quanto tempo!
Como vai você? E a família?
Ah, mas que descortesia a minha, nem te convidei para entrar. Entre, entre, deixa eu te mostrar a minha casa nova. Seja bem vindo à...
Chácara do Caralho
Tudo poderia ser resumido à seguinte frase: "depois de três meses de luxo e glamour no Amarílis Plaza Residence, usufruindo do bom e do melhor, nossa cinderela às avessas é obrigada a passar dias e dias fazendo faxina, lavando roupa e quebrando as unhas". Mas como eu sou uma prolixa assumida, prepara-te para uma peça de sete atos. Apagam-se as luzes...
Primeiro ato
- Amarílis, a gente vai ter que sair do hotel no fim do mês. Não é bom a gente ir procurar apartamento?
- Não sei...
- Por que?
- Ah... na verdade eu queria dividir apartamento com outra menina. Mulher é mais fácil, eu acho.
- Mas você vai dividir com quem? A Simone já divide com a amiga dela.
(Eu e a Si éramos as duas únicas meninas do treinamento. O resto tudo homem...)
- Pois é, Ricardo... não sei.
- Deixa de ser besta. Vem morar comigo e com o Emiliano.
Apresentação dos personagens:
Ricardo - nesta peça intimista e sutil, uma coisa assim Gerald Thomas, o personagem Ricardo está caracterizado pelo cabelo. Ele começa com o cabelo curto, tipo um rapaz normal. Aí resolve deixar o cabelo crescer até ficar no estilo Maria Betânia.
Então Amarílis sugere que ele corte o cabelo e pinte de loiro, para ficar parecido com o Afonso Nigro, do Dominó.
Ele aceita o conselho, mas logo depois, pinta o cabelo de azul.
A tinta não pega e ele fica com a cabeça verde.
Aí ele deixa o cabelo crescer de novo.
Semana passada, inventou de pintar o cabelo de extra-loiro.
Neste exato momento, é conhecido na redação como "aquele menino da cabeça vermelha".
Emiliano - para os que acompanham este blog, uma revelação bombástica: Emiliano na verdade é... Almeida.
Aquele que achava bigode moderno.
Que saiu louco andando de madrugada pelo minhocão.
Que gosta (de verdade) de Engenheiros do Hawai.
E que, naquela festa de teatro, no momento "o que você faria se o mundo acabasse agora?" respondeu:
"Eu daria um peido".
Esses, caros leitores, seriam meus companheiros de apartamento.
Junte a eles uma mulher moderna de 24 anos com seu indefectível pijama cor de rosa, cantando "I love the nightlife" pela casa e chorando nas cenas tristes da novela e pronto, está formado o elenco da Chácara do Caralho.
Segundo ato
Depois de percorrer quilômetros e quilômetros nesta selva de concreto em busca de um lugar seguro ao qual pudessem chamar de "nosso lar", Suquinho, Almeida e Rosinha encontraram um que lhes pareceu favorável:
- é perto do trabalho (a gente não tem dinheiro pra transporte)
- é perto do metrô (caso a gente tenha que usar algum meio de transporte, a gente não tem dinheiro pra pagar táxi)
- e o aluguel é barato (tá, pra quem não entendeu: a gente é pobre mesmo).
O melhor: Rosinha ganhou um banheiro só pra ela. Tem a banheira rosa, a pia rosa, o bidê rosa e o vaso rosa.
Cafona, mas ela ficou feliz.
O lado ruim era que o apartamento tinha carpete.
Não só um carpete mas um carpete horrível, imundo e com cheiro de peixe podre.
- Seu Pedro, a gente quer alugar o apartamento, mas a gente podia tirar o carpete?
- Pode.
Dias depois.
- Mas o Seu Pedro não disse que ia mandar tirar o carpete, Ricardo?
- Não, ele disse que
a gente podia tirar o carpete.
- A gente?
- É.
- Caramba, como a gente vai fazer isso?
- Eu sei.
E neste momento descobrimos que Almeida possui, também, pós-graduação na arte de tirar carpetes.
Terceiro ato
- Ai...ui...
- Vai, puxa... puxa...
- Tá difícil...
- Só mais um pouquinho... eu sei que você consegue... isso, assim mesmo.
- Uhhpf... aiii... não dá.
- Vamos tentar desse lado, então. Segura.
- Aiii... hm... ui...
- Mais força...
- Ugh... tá saindo, tá saindo...
- Continua... tá quase acabando... ai...
- quase... quase... foi!
- Ufa!
- Caramba!
- A gente conseguiu.
- Enfim!
- Argh, você tá todo suado...
- Você também.
- Eu tô imunda. Nunca pensei que tirar carpete fosse algo tão difícil...
Quarto ato
Rosinha entra em cena. Na mão direita, uma vassoura. Na esquerda, uma pá... Ao lado, um balde, um pano de chão e um rodinho.
O palco está imundo: poeira, areia, restos de cola e, se duvidar, até o fóssil de um pterodáctilo estavam escondidos sob o famigerado carpete...
Começa a limpeza.
Sobe o som:
"Foi de Luanda que me trouxeram pra cá
Vim moer cana pra sinhô branco e sinhá..."
"Ensaboa mulata ensaboa
Ensaboa
Tô insabuano..."
"Lava roupa todo dia...
Que agonia..."
"Princesa...
A deusa da minha poesia
Ternura da minha alegria
Nos meus sonhos quero te ver"
Confesso: a essa altura do campeonato eu já estava tão ligada à personagem que seria capaz de dizer: Amado Batista, eu te amo.
E lá vou eu esfregando e cantando:
"Eu tive um amor
Amor tão bonito
Daqueles que matam
Com sabor de saudade
Meu ex-amor
Tem coisas que a gente não esquece
Mas você não merece
Tanta dor"
É bonito demais... Eca, como é que esse chiclete veio parar aqui?
Quinto ato
- Eu odeio a Bibiana.
- Eu também.
No quarto de Suquinho, o adesivo denuncia o nome de sua antiga moradora: Bibiana.
Loira, ruiva, morena? Não sei.
A única coisa que sabemos é que Bibiana sofria de alguma compulsão doentia por chicletes. E era uma porca, que pregava os chicletes em todos cantos da casa.
No guarda-roupa: chiclete.
No armário da cozinha: chiclete.
No canto da porta... eca!
- Que foi?
- Chiclete...
Quer dizer, a gente espera _mesmo_ que aquilo seja chiclete.
Sexto ato
- Almeida!
- Quê?
- Almeida, o que a sua blusa está fazendo no meu banheiro? E esse xampu?
- Ah, guria...
- Tá, eu conto... - diz Suquinho - a gente está tomando banho no teu banheiro.
- Mas por que? Vocês não tem o banheiro de vocês?
- Ah, mas é que no teu tem chuveiro. No nosso é só o cano...
- Sei...
- Ah, deixa, vai...
- Deixa...
- Tá bom, mas com uma condição: eu não quero saber de pêlos no meu sabonete, ouviram?
Sétimo ato
Na sala, um sofá verde, uma poltrona vermelha e cortinas azuis.
A gente gosta de vista _a janela é enorme.
A gente gosta de ver televisão juntos.
Quer dizer, às vezes o Almeida quer ver o acústico dos Engenheiros na MTV, o Ricardo quer ver o canal de compras e eu quero ver a novela... Mas a gente gosta de ficar junto.
No quarto de Rosinha, um colchonete, um edredon fofíssimo cheio de flores e dezenas de enfeitinhos de Natal pregados nas paredes. "Pra gente entrar no clima de fim de ano", ela diz.
No quarto do Almeida (o único que tem móveis de verdade), dezenas de livros e centenas de CDs. Além de um pôster da Luana Piovani semi-nua. Óbvio.
No quarto do Suquinho, um colchonete, uma coleção de revistas, a mala com roupas e... eca!
"Eu odeio a Bibiana!!!"
Na cozinha, um mini mini mini microondas que não se acerta com a tomada, a mesa metálica, a cadeira e a praticamente vazia dona geladeira, sobre a qual reina um autêntico pinguim de louça.
Um relógio cheio de nove horas, um balde de roupa suja e, pregada ao lado da porta, uma plaquinha verde na qual se lê o lema de nosso lar:
"Deus abençoe esta bagunça".
Sejam bem-vindos.